fotos: alucinandinho
Esse texto seria sobre as dúvidas e dramas que uma grande parte dos artistas tem sobre "encontrar seu próprio estilo". Mas esses medos e anseios vão ficar pra outro momento porque eu resolvi fazer contato com o alucinandinho. E ele disse:
"Falar sobre o que faço é difícil pra mim, porque até mesmo na hora de formar algo concreto me vem muitas formas. Acho que com o tempo fui aprendendo a lidar com minha mente, que como um beija flor nao pode ser trancado ou explicada com certezas, pois está em completa mutação em tempo real. Também percebi que ela me domina, e que tenho que sempre dar carinho e alimentá-la com o que quero que ela se torne."
Se você anda por aí (a procurar) por Floripa, deve ter visto a arte dele em alguma rua. A gente reconhece um traço, um estilo, uma mensagem. Quando ela é forte, fica na memória. Quando é consistente, isto é, quando é feita muitas vezes, se torna uma presença marcante. E isso abre novas perspectivas sobre como se apresentar. É tudo uma percepção de si como pessoa.
Deleuze fala num vídeo (no minuto 1:20 logo abaixo), sobre essa percepção de si e de mundo: primeiro, quando nos localizamos enquanto sujeitos, percebendo a si e daí então percebendo o mundo ao redor. Outro modo é perceber o horizonte: considerando as injustiças, problemas e absurdos do mundo.
Enfim, é essa arte de perceper padrões. Sejam na natureza ou na sociedade, é estar atento para padrões - que a gente produz e reproduz - no cotidiano. Eu tava refletindo sobre isso enquanto tentava montar um porfólio da minha arte. O que é um portfólio? Como a gente se apresenta pra tentar catalogar e evidenciar nossos processos artísticos? Há quem veja isso como uma coisa puramente burocrática, mas também pode ser a construção de uma obra de arte. E tá tudo bem... nos dois casos!
Assim como a nossa mente nos engole, esfomeada, certas vezes; Vamos nos formando e nos apresentando de formas, muitas vezes, aleatórias. Quem nunca teve uma crise existencial e mudou uma bio em rede social? Ou então pensou como evidenciar uma habilidade num currículo? Mas não conseguimos controlar tudo. Vez ou outra alguém pergunta nosso sexo, nossa posição política ou religiosa e existe um padrão ali pra responder de forma rápida e precisa. Entende onde quero chegar? Existem caminhos fáceis e rápidos que vão nos direcionando todo dia.
E pra fugir disso basta tentar pensar outras formas possíveis de arrumar a própria cara, a casa, o próprio ateliê, portfólio ou a foto de perfil na rede social. Eu realmente queria um portfólio que fosse uma galeria 3D interativa e pra isso acontecer vou ter que aprender um pouco de programação. Mas sabe o que percebi nisso? Que a gente não tá acostumado a experimentar novas formas ou mídias. Foi intuindo isso que eu quis fazer a entrevista dessa semana com o alucinandinho. A arte dele eu já vi em pedras, paredes, roupas, em corpos como tatuagem ou pintura, em plantas etc.
fotos: alucinandinho
As vezes basta um breve surto (do que for) ou momento de consciência maior pra gente perceber que novas telas, novos hábitos ou formas de se expressar estão nos esperando por aí. É preciso experimentar, estudar, conhecer novas culturas e lugares.
O estilo a gente acha no caminho. É sobre conexão. Ou, como disse o alucinandinho, sobre energia.
1) Teu trampo tá em muitos cantos de Floripa e por aí nesse mundo. Como você vê esse lance de compor com objetos, pessoas e com a natureza? Como foi experimentando não estar preso só ao papel (se é que algum dia esteve)?
Alucinandinho: Em algum momento pelo caminho me perguntei o que é a arte perante a natureza.
Talvez seja minha forma de me conectar com ela, como se os frutos do meu ser fossem as obras que faço, e que estão pelo caminho para quem quiser se alimentar.
Hoje acho que o maior objetivo da minha expressão é estar conectado com as mensagens da natureza (the earth speaks). Nada é mais grandioso que ela, a criação do universo.
Eu apenas aprendo e expresso as mensagens que consigo sendo uma mutação dela.
2) Quem lida com arte às vezes se encontra com pessoas diferentes em lugares incomuns. Tem alguma situação inusitada pra contar sobre a tua arte?
Aluci: Existiram tantos momentos marcantes na minha caminhada até chegar no agora e ter a certeza de que existe uma magia, e um poder na mente humana, que fica difícil contar uma. Foram muitas as formas que a vida me demonstrou e me guiou.
Mas uma das coisas que percebo a ter ido em varios lugares do mundo é que apesar de tudo, sempre existiram e existem pessoas conectadas com o universo. E que já entenderam qual é o caminho para evolução.
3) "Eu ♥️ pirão" foi coberto, naquele muro lá da Armação. O que tem a dizer pras pessoas que não amam pirão?
Nandinho: hahaha Pirão é uma arte, e existem gostos diferentes. Para quem nao gosta de pirão eu diria: Tudo bem, coma o que te faz bem.
E sobre quem não gosta do que faço, a mesma coisa.
Acho que assim como tudo, minhas obras tem que durar apenas o tempo necessário.
4) Qual a tua relação com o mar? Faz algum paralelo entre surf e arte?
Nando: Em toda minha vida meu habitat sempre foi na beira do mar, surfar é minha religião, minha cultura familiar, minha dança, é a minha forma pessoal de viver. O mar sempre foi meu melhor amigo. Talvez minha primeira obra tenha sido criar essa ligação com ele, e assim observar. Tenho uma sensação muito forte de que sempre fui guiado por uma força maior, e cada vez mais fico calmo com isso, me sinto cuidado. Apenas tento estar cada vez mais ligado às mensagens.
5) Fica à vontade pra fazer uma provocação, questionamento ou mandar uma mensagem!
Fernando: Acho que cada um tem seu processo de evolução, sorte de quem consegue ter a tempo de aproveitar.
No mundo de hoje, sinto que todos estão recebendo mensagens para que entendam o que realmente tem valor na vida. Eu não tenho poder de mudar o mundo. Apenas de viver o meu. Agradeço a vida por tudo que ela me dá, e por ter sido o alucinandinho e sempre ter visto a beleza de abraçar uma arvore.
Deixo sempre minhas boas energias...
Notas finais:
O perfil do Nandinho no Instagram é @alucinandinho. Confere lá!
Seguimos com vagas abertas no nosso Laboratório Criativo: Personagem na Paisagem. Mais informações aqui na página no site ou, se preferir, nos chama na DM para tirar dúvidas ou se inscrever!
Se você experimentou formas diferentes de mostrar sua arte: comenta aqui pra gente trocar uma ideia ou, quem sabe, bolar uma entrevista ou algo juntos! Se algo te tocou, vou curtir muito essa interação!
Abraço e até semana que vem!
Comments